Desde maio de 2015, Rio Grande conta com a Associação de Apoio às Comunidades Terapêuticas do Rio Grande, a AACTERG. A associação foi criada com o objetivo de auxiliar todas as Comunidades Terapêuticas (CTs) da cidade, diante da realidade – longe da ideal – na qual muitas se encontram. Através de campanhas contínuas de arrecadação de dinheiro e alimentos, a AACTERG auxilia, atualmente, seis comunidades em Rio Grande e, indiretamente, centenas de dependentes químicos que procuram por uma nova chance, longe das drogas.
Segundo o fundador da AACTERG, Daniel Barros, a ideia de ajudar as CTs surgiu como uma necessidade urgente: “as comunidades não recebem o apoio necessário; algumas têm o apoio do governo, outras não; algumas têm toda a documentação, outras não; e, algumas têm comida, outras, infelizmente, não”.
Ainda, segundo Barros, ciente das deficiências das CTs, o grupo não pensou em abrir uma nova Comunidade, acreditando que a melhor opção seria auxiliar as já existentes. Atualmente, são seis pessoas trabalhando diretamente na AACTERG – entre funcionários e voluntários – e seis CTs assistidas: Esperança, Casa de Resgate, Neemias, Prosseguir, Fazenda Paraíso e Esquadrão da Vida.
Motivação
Barros explicou também que muitos que acabam escolhendo trabalhar com a reabilitação de dependentes químicos são ex-dependentes, porém, este não é o seu caso, “eu nunca tive problemas com drogas, mas tive, sim, casos dentro da minha família, e isso me levou a trabalhar com os dependentes”, disse.
O jovem, que realiza o trabalho de forma voluntária, disse ainda que sua maior recompensa é um sorriso. “O que eu ganho? Eu ganho um sorriso, um agradecimento de um parente, os amigos que a gente acaba fazendo nessa jornada. Acho que a melhor coisa pra gente é saber que estamos fazendo o bem”, ressalta Barros.
Arrecadações e telemarketing
A associação conta, há três meses, com uma central de telemarketing. Através de contato telefônico, a funcionária explica toda a motivação da Associação e, caso a pessoa queira ajudar, um mensageiro devidamente identificado vai na residência buscar a doação.
A Associação promoveu, nos dias 18 e 19 de dezembro, a Campanha Natal Sem Fome nas CTs. A campanha – realizada em algumas unidades dos Supermercados Guanabara – arrecadou 800kg de alimentos, que foram entregues a seis CTs.
Paralelamente, a AACTERG recebe doações de diferentes gêneros. Segundo Barros, qualquer pessoa que quiser doar algo pode entrar em contato através dos telefones 3035.3534 ou 3230.7952. “Nós sempre estamos recebendo doações. Serve roupa, comida, geladeira e até sofá, por exemplo, sempre vai ter alguma Comunidade precisando”, explicou.
Dentre essas doações diferenciadas, Barros citou a Comunidade Terapêutica Esperança, que recebeu a doação de quatro computadores novos, e a Casa de Resgate, que recebeu uma máquina de cortar cabelos, para higienização dos internos e também de moradores de rua, que, esporadicamente, também são acolhidos na Casa.
Além das doações
Segundo o fundador, a AACTERG também presta apoio psicológico e fisioterápico aos dependentes químicos. “Nós mantemos um convênio com a Faculdade Anhanguera e a mesma nos disponibiliza estagiários na área da psicologia, enfermagem e fisioterapia, para todas as comunidades que se interessarem”.
A AACTERG também ministra cursos na área da informática, e voluntários prestam auxílio para os internos que não são alfabetizados. “As aulas de informática foram muito bem aceitas, teve até um dependente químico em tratamento que ia desistir, mas as aulas o fizeram ficar, porque dentro da Comunidade ele estava se capacitando, e na rua, talvez, não tivesse essa oportunidade”, contou Barros.
Planos: CT feminina
Segundo o fundador da Associação, um plano, que já está sendo posto em prática, é a abertura de uma Comunidade para mulheres. Desde a Casa de Ester – CT feminina que encerrou suas atividades em maio de 2014 – mulheres que anseiam por um novo recomeço livre das drogas não têm opções em Rio Grande.
Perante a isso, Daniel disse que já que nenhuma das CTs existentes prontificou-se a fazer uma ala feminina, ele já iniciou as tratativas para a abertura de um local para mulheres. “O que falta, realmente, ainda é a confirmação de um local, mas pessoal capacitado para trabalhar nós já temos”, comenta.
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O que são Comunidades Terapêuticas?
São Instituições privadas, sem fins lucrativos e financiadas, em parte, pelo poder público. Oferecem, gratuitamente, acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de drogas. São instituições abertas, de adesão exclusivamente voluntária, voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaço protegido, em ambiente residencial, para auxiliar na recuperação da dependência à droga.
O tempo de acolhimento pode durar até 12 meses. Durante esse período, os residentes devem manter seu tratamento na rede de atenção psicossocial e demais serviços de saúde que se façam necessários. As Comunidades Terapêuticas mantêm sempre um responsável técnico de nível superior legalmente habilitado, bem como um substituto com a mesma qualificação. No processo de admissão, a Comunidade Terapêutica deve garantir:
o respeito à pessoa e à família, independente da etnia, credo religioso, ideologia, nacionalidade, orientação sexual, antecedentes criminais ou situação financeira;
a orientação clara ao usuário e seu responsável sobre as normas e rotinas da instituição, incluindo critérios relativos a visitas e comunicação com familiares e amigos;
a permanência voluntária; a vedação a qualquer forma de contenção física, isolamento ou restrição à liberdade;
a possibilidade do usuário interromper a permanência a qualquer momento;
a privacidade, quanto ao uso de vestuário próprio e de objetos pessoais.
* Definição obtida no site www.brasil.gov.br
Por Esther Louro
esther@jornalagora.com.br