Ser mãe é padecer no Paraíso.
Ser filho também.
Mas nós dois gostamos disso.
Se não tivéssemos um ao outro, sei lá, faltaria alguma coisa.
Seria meio que Romeu sem Julieta.
Não existe mãe de cabeça fria.
Por isso dão uma leve infernizada.
E a gente aceita.
Porém, contudo, embora e todavia nos amamos.
Sabemos que estão cobertas pela desculpa que "é tudo para o nosso bem".
A nova namorada que apresentei não é mulher para mim.
Nunca lavará, passará e cozinhará como ela.
Falar de aventuras ainda é, e sempre será, assunto intocável e proibido, senão "cadê os modos, menino?".
Ter mãe é poder fazer o que quer, dentro do que ela quer.
Mãe a gente não xinga.
Com ela a gente exerce a sagrada paciência.
Filho cobra.
Mas sabe que podia cobrar menos.
Elas nos fazem um pedido, respondemos com dois de volta.
Ficamos impacientes com nossos projetos de um mês.
Esquecemos que o melhor dela demorou nove meses.
Queremos esconder algo sendo reticentes.
Elas pulam na frente e já têm suas conclusões.
Ficar fora uma noite lhes dá pretexto para nos procurar na casa da ex, Delegacia e
Pronto-Socorro.
Mãe dobra e empacota tudo etiquetado.
Nós filhos jogamos tudo de qualquer jeito lá.
Nossos lençóis nunca estão bem estendidos e a cama bem arrumada.
Aprenda que mãe não tem preguiça.
Só fica cansada porque a gente dá trabalho.
Se temos um defeito, "olha, puxou o teu pai".
Se cortamos o cabelo um pouco diferente, na primeira visita ela vai estranhar.
Me ouviram cantar pneu para agradar, eu que páre, isso é coisa de marginal.
Nunca a enxergaremos sensuais.
Mãe é terna, delicada e sempre foi pura.
Achar que estamos maduros é pretensão perto de "quem sabe o que fala".
Vamos conversar?-Me escuta primeiro que aqui sou eu que falo!".
Mãe é sempre politicamente correta, as amizades é que desviam.
Suporta. Atura. Aguenta.
Com sorte a gente se entende.
Um conselho por telefone acaba com aquela coisa de que a vida nos deixou tão longe.
Mãe é mãe e ponto.
É a mulher que mais me ama.
Aqui ninguém mais questiona.
Verdade seja dita: aos olhos delas, seremos eternos bebês.
Por mais que nossas bochechas estejam para lá de coradas, estamos mal alimentados.
Nossos dentes devem estar bem escovados.
O hálito fresco.
Nunca cheirando à bebida ou cigarro.
Quando o negócio fica meio tenso, eu quero é abrir a porta para dar uma volta.
Já até ameacei mil vezes de largá-la do meu pensamento e ir embora.
Sempre ouço um "pode ir, mas leva um casaco que está frio e te agasalha".
Me pergunto´, até hoje, se não seria bom eu carregar a chupeta, pendurada no pescoço.
Ela iria dizer, na certa, "que belo enfeite esse".