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Gabriel Colombo

11/12/2014

Toda Certeza Vã

Um adolescente conseguiu chamar minha atenção. Era eu e algumas pessoas. Na calçada. Mais
precisamente numa esquina. Esperando nossa vez de atravessarmos. O que ele fazia? Ah, ele ria. E simulava, com um ar debochado, que iria avançar, mesmo com os raros incessantemente passando.

Acompanhado de uma senhora, que deveria ser sua mãe, ele estava à brincar bastante com o limite da vida. A mãe, esta por sua vez, estava enfeitiçada com o vigor de sua cria. Um garoto prepotente em seu poder porque não sabe das coisas. E ela por acaso sabia? Para poder freá-lo? Ou advertí-lo? Tudo indica que não. Ele fazia seu espetáculo, deixando todos estarrecidos. Mas que os dois se divertiam, não resta dúvida. Achando tudo muito  bonito, uma hora conseguiram atravessar o semáforo. E ela nos olhou, a mim e outros  pedestres, com a conclusão: Meu filho é o máximo. Ele é invencível.

Se é o máximo eu não sei. Porém, diferente do que ele faz ela acreditar, e tentou nos fazer também, ele não é invencível.
A adolescência tem isso.
De nos conferir uma vontade tamanha de viver.
Desafiamos os limites entre a vida e a morte.
Sequer os chegamos a conhecer.
Dançamos nas bordas. Quase caímos. Para recebermos o sopro que nos confirma como cada vez
mais vivos.

E é aquela coisa já escrita pelo célebre escritor J.R. Tolkien, em sua obra, The Sillmarillion: porque as coisas belas e preciosas precisam correr perigo para então se transformarem em boa aventurança? Tolkien não perguntou isso. Ele afirmou com a certeza que um escritor escreve sua máxima.
Quem perguntou fui eu...
Não culpei o garoto. É só um garoto sendo garoto. No instante o achei estúpido. Mas, esperem aí: na idade dele, quem não foi? Quem não deslizava às gaitadas no fio da navalha? Irá você negar? Irá dizer que não? Me poupem. Ou então não viveu, é um sem passado. Ou consultou muitos médicos por não ter o comportamento típico que deve ser apresentado. O de agir com a ingenuidade de uma criança. O que é outro assunto.

Muito de veracidade carrega esse pensamento citado de J.R. Tolkien. Trazendo para cá, é puramente que só quando se perde o sagrado, o belo e o marotamente profano é que se atribui valor. E quando somos jovens, não tememos a ninguém. Nem a nada. Podemos contra tudo e contra todos. Se devemos ter medo? Deveríamos. Seria melhor termos mais noção?
Seria. E de fato ninguém nunca foi ou teve. Mas esse mar de possibilidades que falam de cautela são a única coisa que se passam na cabeça de um jovem. E quem dirá de um espírito muito livre e belamente jovem?

E o meu "tomar cuidado", o meu "tenha um pouco de medo", hum, já deveria ter vindo faz tempo. Pela impossibilidade de conjugarmos cautela com juventude, já expliquei como era impossível, vocês não precisarão que eu desenhe. E num bela manhã de domingo estava eu indo comprar jornal. Aqui perto de casa. Eu não estava nem na esquina. Estava me aproximando dela... Ouvi motor de carro acelerado... Pensei: já está à mil. Tudo em segundos, Do outro lado vinha um outro veículo igualmente alterado. Eram dois. Não deu outra. Deu o previsível. Deu acidente.

Onde os dois colidiram e se quebraram em alta velocidade . Tudo veio em direção a mim.
Que tentei desviar e fui pego na altura dos joelhos. Fui arremessado. Impotente caí no chão e não me restou nada. A não ser que o que tivesse que acontecer acontecesse. Fiquei entre a frente de um carro e uma parede. No hospital bati raio-x. Exames foram feitos. Médicos foram acionados. Peritos precisados.

Sofri lesões. Um enorme, mas enorme abalo no corpo e na mente. Ninguém se machucou. Só eu.
Saí vivo.
...interessante...
Essa noção, pelo menos a de achar que toda tentativa de viver pode nos apresentar perigos, eu nunca achava suficiente quando vinha até mim. Que eu não tenha que provar pior para me acostumar. Pois como cantou Lulu Santos, "se virá, será quando menos se esperar, daonde ninguém imagina".

 Gabriel Colombo.

Jornalista (0017253) e Escritor.
Autor do Livro "Verde Cor de Menta e dos Teus Olhos"(All Print). Disponível nas melhores Livrarias do Brasil.


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