A LENDA DO FAROL: os sete saberes de um educador – II Parte
Foram tantas as luas que se passaram, que nem mesmo o relógio do sol poderia registrar o desaparecimento do ermitão e, nem muito menos o que ele fez em sua caminhada pelo mundo. Num lindo dia, daqueles onde o verde cobria todo semi-árido baiano, o alto da montanha estava ainda mais linda para recebê-lo. Ao cair da noite pode vislumbrar que havia cinco estrelas cintilantes que se destacavam no céu. Ali sentado recebe sua sexta revelação e uma estrela projeta novamente aquele farol de luz esplendoroso, naquele instante ele pode ler a seguinte mensagem: sou a essência que lhe trago o dom de aprenderes a pensar e com isso poderá novamente se re-ligar ao Criador: eu sou a filosofia e a theogonia, teosofia que dá ao homem as possibilidades de acessar sua consciência superior, conhecer o céu e a terra e seus mistérios (cosmogeneses e antropogenese). Com isso poderá mergulhar para dentro de si e tornar-se mais criativo. Junto comigo trago minha irmã, ela é a 7ª estrela que lhe revela a arte da cura por um ramo do conhecimento ainda pouco praticado pelos homens a medicina teurgica (palavra de origem grega que significa Obra, magia Divina). O ermitão ficou completamente em êxtase, no entanto percebeu que todo seu aprendizado não fazia sentido algum isoladamente. Sua visão ainda era fragmentada com um monte de disciplinas que ainda não se conectavam, não interagiam umas com as outras. Novamente, a presença de Cronos o deus do tempo, fez com que um único dia na vida do ermitão fosse uma eternidade e o atormentasse tanto que este retorna à montanha e põe se a pedir incessantemente que as estrelas lhes dessem a chave do conhecimento secreto para resolver tal armadilha. Neste dia de tanto suplicar e, a suplica de um sertanejo tem o poder de uma medicina teurgica e, esta sua persistência o torna jus ao seu pedido, caso semelhante ao que acontecera a Esculápio de Epidauro, que renasceu das cinzas. Eis a revelação provinda da 8ª estrela: eu sou o poder sintetizador, unificador e de integração entre todos as revelações que recebeste das sete estrelas. Para que possa enrique-SER, ou seja, aplicar o conhecimento recebido, deverás vivenciar a metáfora: um por todos e todos por um, não a luta pelo poder, mas a luta pelo dever. Daqui para frente a jornada é sua e lembre-se sempre: a quem muito for dado, muito lhe será cobrado. Conta-se que depois de muito tempo, o ermitão casou-se e teve oito filhos e os batizou com o nome dos sete ramos do conhecimento da árvore da vida que lhe fora revelado. Tornou-se um grande pensador e hoje caminha pelo mundo, ensinando seu método de aprendizagem denominado de “o farol do conhecimento”, ensinando que todos os saberes são analógicos. Embora de conteúdos diferentes encontramos nos saberes semelhanças, inclusive contendo o bem, o bom e o belo para ser integrado de forma eclética e, sincreticamente aplicado no dia-a-dia de cada um. Sem dúvida alguma, trata-se de uma visão sistêmica, integral e holística onde as múltiplas disciplinas qualquer que seja ela se interagem de forma multidisciplinar, inter e transdisciplinar. O farol do conhecimento é móvel e como tal gira 360 graus, iluminando a escuridão provocada pela ignorância, insciência, apedeutismo que tanto atrasa o desenvolvimento do ser humano. A educação é o farol do conhecimento, de potencial que vai além do farol de Alexandria cuja iluminação atingia mais de 50 km. A educação não tem fronteira, ela é a fonte de toda Criação e, os limites a ela imposta é produto da ganância dos homens para dominar os povos. Este conhecimento é incorruptível e volta sempre ao seio dos homens, como o fez Prometeu ao entregar as chamas deste fogo aos homens (este prometeu e cumpriu). A educação é o farol do conhecimento, os educadores suas cores e luzes e as sete estrelas são suas múltiplas disciplinas. Cada escola possui um farol do conhecimento réplica perfeita daquele contido nas estrelas. Todas as escolas possuem a mesma essência e nenhum educador pode arrogar o direito de dizer que a sua, ou seu método é melhor do que o outro e sim compartilhar suas experiências e qualificar o que os outros estão fazendo. Assim como o ermitão era também conhecido como Glorioso o mesmo significado para o nome Euclides, todos educadores são gloriosos e suas ferramentas são os diversos ramos do conhecimento, verdadeiras cunhas capazes de erguer, remover e transformar os maiores pesos da ignorância do ser humano. Educação, família e sociedade é uma tríade perfeita à medida que cada uma delas cumpra seu verdadeiro papel. Que a família o faça através do amor, a escola pela inteligência e a sociedade pelo trabalho. Amor sem sabedoria cria protecionismo sem os devidos limites. São Mestres e pais bonzinhos, não justos. A inteligência sem amor torna o homem distante e frio nos seus relacionamentos, mas também amor e sabedoria sem o trabalho a ação não gera absolutamente nada e, é como um livro fechado e trancado numa biblioteca. A escola, família e sociedade constituem o palco da vida onde se desenrolam os saberes sintetizados pelas revelações das estrelas e, nas suas inter-relações é que se dá a harmonia tão desejada de todos os educadores para que a educação não seja mais o bode expiatório de toda sociedade, porque nosso pais é como disse Jorge Amado: Eu sou muito otimista, muito.” O Brasil é um país com uma força enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não somos um paisinho, nós somos um continente, com um povo extraordinário Antonio Conselheiro disse por volta de 1900: “Há de chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim do mundo”. Primeira tradução: é o fim, a morte pela transformação do ser humano através das estrelas do conhecimento citados na lenda tendo à frente a educação como farol a iluminar o grande espetáculo da criação Divina, mas também pode ser o aviso há tempos, anunciado pelos grandes sábios. Ou mudamos pelo amor, ou pela dor, mas mudamos. Por isso termino esta lenda que é muito mais real que possa parecer com a seguinte frase: “Atualmente não se pode aceitar mais o distanciamento entre a escola e a família. Ambas deverão ser parceiras na construção do cidadão planetário, atuando em co-responsabilidade”. Prof. Rosimere dos Anjos Ferreira “Esta lenda é uma homenagem a todos os educados baianos e a todos educadores brasileiros que com dignidade fazem da educação seu principal baluarte.” O sertanejo é antes de tudo um forte, disse Euclides da Cunha. Os educadores além de fortes, são também persistentes e sábios para que possam transformar pequenas estrelas em grandes sóis.