Historicamente, a greve surgiu como um instrumento social pelo qual uma categoria de trabalhadores se une em virtude de uma forte insatisfação com algum aspecto relacionado ao seu labor. Há algum tempo, quando a revolução industrial modificou a estrutura de trabalho e impôs um ritmo frenético de busca pela produção e aumento de capital, a classe operária sofreu o impacto negativo dessa novidade, sendo explorada ao extremo. Seus patrões, detentores do poder econômico, investiam muito em maquinários; porém nada em relação ao principal "instrumento" de produção: o labor humano. Dependentes do pequeno salário do mês, os trabalhadores se submetiam a regras duras de trabalho, a horas inacabáveis de produção dia-a-dia, a condições insalubres, perigosas, à nenhuma proteção contra acidentes, enfim, à miserável condição de ter que obedecer à ordem imposta pelos poderosos chefes. Como poderiam, então, esses seres
humanos, modificar tal realidade se a única força que possuíam era o seu labor? Ora, privando o seu patrão desse "instrumento", era possível afetá-lo diretamente no que mais lhe interessava: riqueza. Mas a força do labor não se demonstra pela ausência de um trabalhador quando há outros duzentos para manter a produção inabalável. Isso não representa poder de luta em igualdade de armas com os detentores do poder político-econômico. Felizmente, esses trabalhadores sabiam da sua força e da necessidade de se unirem como única forma de conquistarem condições mais dignas de trabalho, salários mais justos, melhor distribuição da riqueza gerada por eles próprios. O patrão obviamente sempre negara a justeza da luta, afinal o modelo capitalista proposto por Adam Smith se alicerça justamente na linha marginal entre os que têm a riqueza e os que trabalham por uma reles fatia do grande bolo. E o medo do patrão, o medo da quebra do
paradigma social torna muitos trabalhadores incapazes de reconhecer sua força, e de acreditar nela. Essa dialética entre o poder econômico versus poder laboral segue hodiernamente, porém a submissão de categorias de trabalhadores parece suplantar a justeza de receber um pouco da riqueza que existe. Infelizmente, qualquer semelhança com certa classe de operários não é mera coincidência.
Carina Márcia Dahmer é servidora pública da Justiça do Trabalho, estudante de Direito, ex-bolsista CNPq/FURG. Apaixonada por literatura.