Primeiro dia de aula, começo da graduação, e os alunos recém-ingressos, ávidos por aquelas informações extraídas do texto da lei, as quais julgam ser o próprio Direito, já se deparam com a primeira questão retórica de suas jornadas acadêmicas: por que escolheram o Direito?
À primeira vista – e para a maioria dos acadêmicos desse curso – a resposta não é nada retórica, ao inverso, é simples e direta: para passar em concursos ou, como diz o jargão popular, pelo “leque de opções”. Não é crível, entretanto, que o fundamento escuso do professor ao questionar seus alunos com tão profunda indagação seja apenas agrupá-los entre os que ingressaram na faculdade de Direito para realizar o curso propriamente dito, ou buscam o “cursinho preparatório” cujo bônus é o diploma. Não que o fato de buscar esse caminho seja menos digno de aplausos, mas a busca pelo Direito somente como instrumento de alcance de um cargo público está aquém da importância do Direito para a sociedade.
Creio que a questão seja bem mais ampla e necessita de maiores digressões para se alcançar alguma resposta plausível – como diria algum colega no início da graduação. A reflexão profunda talvez faça o estudante de Direito responder que está no curso por senso de justiça, desejo de tornar o Judiciário e seus ramos mais eficientes e preocupados com a sociedade ou, ainda, numa visão bem mais idealista e demagógica, suplantar as mazelas econômico-sociais e tornar o sistema político-governamental brasileiro um assunto sério, com a atuação de representantes éticos e igualmente sérios.
Essa questão, todavia, parece perder totalmente o sentido retórico ao ser formulada aos alunos em fase final da graduação, pois o curso de Direito tem o poder de afogar em águas profundas a paixão pelo Direito como fonte de justiça social, e de transformar os bacharéis em operadores sedentos pela fonte financeira. Afinal, com direito no bolso, por que estudar Direito?