Século XXI; 50 anos após a revolta da queima de sutiãs; da luta corajosa de diversas mulheres pelo reconhecimento e valoração de seu gênero como pessoas de direitos – principalmente de liberdade -, e o menosprezo pela igualdade nossa aos homens ainda á propagada pela mídia imbecil dominante neste país de falsas alegrias.
Com sentimento de rancor misturado com nostalgia, certa apresentadora de um programa de distração para donas-de-casa, lança texto exaltando o papel que todas as mulheres desejam representar (sim,a mente insosa de loirice oxigenada “pensa” assim) – qual seja, cuidar da casa, marido e filhos, claro, cuidando para que nada falte em seu seio familiar. O texto responsabiliza aquelas criaturas más que lutaram arduamente para existirem e poderem sair de casa não apenas para “adornar” o marido, mas para serem pessoas necessárias no ambiente profissional. Para a apresentadora descerebrada e para a autora do texto enfadonho, aquelas guerreira destruíram as suas vidinhas tranqüilas, cheias de vassouras e lustra-móveis, com cachorrinhos bonitinhos para usarem como desculpa para dar uma voltinha na quadra e fofocar e trocar receitas de bolo com as vizinhas e amigas e convivas sociais. Sim, agora essas Amélias devem trabalhar, estudar, sair sozinhas, dirigir, ler (não me refiro a livretos romancescos), ler jornais, ler anúncios, saber as notícias do mundo, utilizar eletrônicos, falar, conversar e, a parte mais difícil dessa transformação, elas têm que pensar. Algumas ainda não fizeram essa última adaptação, e aí resta a elas ligar a televisão e ouvir a apresentadora lamentar não estar em casa fazendo o que suas telespectadoras fazem. Pelo menos estas se sentem acalentadas, pois descobrem que as suas vidas vazias e solitárias de servidão são desejadas por aquele “exemplo de mulher” e pela autora daquele texto.
Isso mulheres, sirvam seus maridos pois vocês querem ser insignificantes; deixem que eles procurem mulheres livres e independentes enquanto vocês preparam o jantar e deixam as chinelas dele na porta. Aproveitem e assistam a novela para aprenderem a ser mulheres de verdade! E àquelas que queimaram seus sutiãs, obrigada por me proporcionarem o direito de viver e pensar.