Sinto-me doente. Penso que essa doença é maligna, intratável e incurável e, pior, sou a primeira pessoa a ser contaminada por uma espécie de mutação do vírus x, sendo que este se transmutou exclusivamente para me contaminar.
Eu sei disso porque todos os outros vírus, bactérias e eteceteras que ousaram tentar me infectar se deram mal, para o meu bem a minha resistência a tudo que pega em outros seres humanos em mim não pega e me considero forte por causa disso. Vários mosquitos vieram se aproximar de mim com suas picadas certeiras na certeza intangível de sugarem um pouco do que sou e depositarem em mim muito do que outros pensam ser. Eu tento escapar daqueles vermezinhos nojentos que adornam nossos alimentos, principalmente aqueles freqüentadores de restaurantes chineses alternativos, que querem se alojar dentro de mim para poderem controlar meus gostos e gastos, como sanguessugas gastro-intestinais. Eu fujo, sempre...
Porém, essas aí estão até na bebida que escolho, elas me dizem qual a marca do refrigerante que preferem e algumas vezes a bebida nem precisa estar vencida. Basta eu abrir a boca e fechar os olhos que já estou sob suas ordens. Nem mesmo a leptospirose me preocupa. Muitos ratos já me visitaram e tentaram sim me carregar com eles ou, ao menos, me deixar com a sua sintomalogia, para que não haja dúvidas sobre quem exerceu o papel fundamental no meu comportamento atual. Mas eles nunca me alcançaram e fiquei por tempos incólume a sua sujeira.
Sinto-me doente. Parece que não é uma das trocentas mil doenças já capituladas pela literatura médica; é um vírus transmutado parar exclusivamente me infectar. Ele nasceu da minha falta de anticorpos para defender-me de mim mesma, de meus pensamentos inócuos e deletérios. Eu sou também a cura para todo o meu mal.
*Estudante de Direito da Furg
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