Vinícius de Morais certa feita disse que aprendeu mais com os animais que conviviam juntos no seu quintal do que com os homens. Partindo do princípio de que o ser humano possui na racionalidade o caracter que o põe um patamar acima do resto do mundo "animalia", o que Vinícius poderia aprender com animais privados da ratio que não aprendeu com os homens?
Há alguns dias apareceu, com a vida por um fio, uma gatinha aqui em casa. Naquela "pobre do bichinho!", "não podemos deixar morrer!", acabamos adotando o animal. Colocar comida, remediar, limpar e abrigar, foi o que fizemos. Além de olhar o bichinho e ficarmos cativados, talvez pela sua vulnerabilidade, observamos que alguém mais também já o tinha adotado, desconfiamos que já estavam convivendo há alguns dias já. O que ocorre é que aqui em casa há um labrador, um cachorro disposto, alegre e feliz que sempre chama muito atenção de todos. Um amigão de verdade! Sempre fazendo festa e trazendo um agrado na boca quando se chega no pátio. Bem, o que aconteceu foi que o labrador, mesmo sendo um macho, "adotou" a gatinha. Ele cuida dela, brinca, lambe, dá carinho, ensina, e mesmo sem leite, dá de mamar. Vejam bem, um gato e um cachorro, amigos.
Voltando uma semana no tempo, tive a oportunidade de assistir o filme "Babel", do mexicano Alejandro González; o filme narra a história de pessoas de inúmeros e distantes lugares do mundo conectadas por um incidente trágico ocorrido em função de uma arma. Cada núcleo mostra personagens de países diferentes, raças diferentes, culturas diferentes, de línguas diferentes. O que há no filme, é um realismo seco, chocante, drástico. Um aviso de /frames/ com um leve gosto amargo de realidade. Quem viu "Babel" sentiu o mesmo gosto na boca. A alegoria da história da Torre Babel, conta, segundo o Antigo Testamento (Gênesis 11,1-9), que ela foi construída na Babilônia pelos descendentes de Noé, com a intenção de eternizar seus nomes. A decisão era fazê-la tão alta que alcançasse o céu. Esta soberba provocou a ira de Deus que, para castigá-los, confundiu-lhes as línguas e os espalhou por toda a Terra. Mas esta alegoria diz mais: revela que deixaram os homens iguais, de compreenderem-se entre si, por apenas não falarem a mesma língua. Desta forma, lógicamente, diz que não são capazes de utilizar a razão para compreender uns aos outros, e nem com ela são capazes de transpor a barreira da linguagem e da diferença. Os homens diferentes não se entendem, isto é fato, isto é generalidade.
Bergamotas ao sol, eu entendo o que Vinícius quis dizer ao ver o que aconteceu aqui em casa com os animais. Um gato e um cachorro, espécies diferentes, de linguagens diferentes, um ensinando o outro. Um dando ao outros o que na língua deles eu não sei o que significa, se é que significa algo, mas que na nossa língua chamamos de amor. Algo que talvez por serem tolhidos de racionalidade simplismente lhes é instintivo. Pior nós, racionais, que negamos isto.Acho que estamos um patamar acima mesmo...NOOOOT!