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Procurando o tom

31/03/2006

Cada um dá o que quer, come o que gosta e sofre como pode...

Com tanta coisa dando errado nas nossas vidas, fica difícil imaginar durante um minuto sequer que a vida que nós temos, às vezes, seja, exatamente, aquela que nós queremos ter para todo o sempre, ou melhor, aquela que sonhamos como ideal.

 

Reconheço que esta vida nos apresenta certos desafios que não podemos evitar, mesmo assim, a forma como nós vamos encarar cada obstáculo é uma escolha totalmente individual - que requer suor, inspiração e todos os exercícios aeróbicos e anaeróbicos existentes.

 

Vou dar um exemplo bastante mórbido: um ente querido morre!! Não podíamos fazer nada para anular esta situação, mas devemos – pela nossa sanidade mental, pessoal, profissional... - escolher a maneira como vamos lidar com essa situação. Eu posso entrar em depressão e me ausentar durante dois meses do trabalho, sendo demitida inclusive, pelas faltas já sem justificativa, ou posso tentar entender que a morte é um processo natural (???!!!!), pedir oito dias, que a legislação me assegura como direito para me recuperar e voltar a cumprir as minhas obrigações, sempre lembrando que ainda há muitas outras pessoas vivas que precisam de mim. A dor, o luto, a saudade continuam existindo, afinal eu não sou de ferro, mas eu devo tentar, de todas as maneiras, superar esta fase, para poder enfrentar outras que virão e se postarão, de novo, no meu caminho.

 

Na minha família, o pessoal nunca foi muito sensível a crises existenciais e choradeira sem propósito. Minha vó, inclusive, já determinou o tempo de duração do meu luto quando ela morrer: deve durar no máximo dois dias. Quase todo mundo lá em casa é do signo de virgem e como bons virginianos somos todos racionalistas e práticos. Acho que por isso que eu não costumo me comover com as pessoas que vivem reclamando e reclamando da vida de barriga cheia, pelo contrário, fujo delas.

 

Sempre tive muito medo de livro de auto-ajuda. Todos que eu abria, faziam com que eu me identificasse com a problemática enfocada e, dessa forma, eu ia descobrindo mais falhas na minha personalidade que eu não tinha consciência antes de ler o livro. No entanto, um dia eu estava no aeroporto de Porto de Alegre, sem muito o que fazer e resolvi dar uma olhada em ‘Perdas e Ganhos’ da Lya Luft, que, por um acaso, a minha vó havia me emprestado. Li um capítulo, não li o resto, mas eu tenho certeza do que eu aprendi naquele pequeno trecho eu não vou esquecer pelo resto da minha vida.

 

Não sei exatamente as palavras que a gaúcha de Santa Cruz utilizou para se expressar. Só sei que ela dizia que sempre quando temos um problema devemos perguntar para nós mesmos o seguinte: isto é uma tragédia ou uma chateação?

 

A partir desse dia, eu comecei a ver que 99,9% dos impasses da minha existência eram chateação e não tragédia. Sendo assim, quase nada merecia o meu desespero e mesmo se tratando de uma tragédia, eu não precisava me descontrolar porque eu geraria mais uma chateação.

 

Como se fosse um filme, eu olho pro lado e quem eu vejo? Ela mesma! Lya Luft – em carne e roupa -! Se realmente fosse um filme, ela estaria sentada do meu lado e começaria a comentar a passagem que eu tinha acabado de ler, mas, como era vida real, ela passou batida pelo pessoal que aguardava o vôo da Gol, como eu, e rumou ao portão do vôo da varig. Coisas da vida – econômica que seja.

 

A vida moderna nos abre um leque de possibilidades para que nós possamos nos reinventar todos os dias. Por que então sofrer à toa?

 

Entretanto, escrevo este texto com a certeza de que estou tentando seguir isto à risca, mas sem a certeza – nenhuma, aliás, - de que posso concretizar estas idéias ante um abalo de grandes proporções – uma tragédia. A teoria é sempre linda, mas a prática, muitas vezes, nos pega desprevenidos. Por exemplo, a minha vó ainda não morreu...

 

Mesmo assim, despeço-me, hoje, com a letra de uma música, a qual ainda não ouvi, mas reconheço a beleza e a propriedade das palavras diante daquilo que tentei expor.

 

Milágrimas
(Itamar Assumpção e Alice Ruiz)

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre


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