Caros e fraternos amigos, li a frase que dá título a este artigo numa comunidade do site de relacionamentos Orkut. Confesso que sempre tive um “pé atrás” com estes portais que expõem a vida de seus usuários, facultando-lhes a perda da privacidade. Demorei certo tempo para fazer meu perfil, mas aos poucos fui contagiado com a saudável oportunidade de reencontrar velhos conhecidos, ex-colegas de escola e faculdade, amigos distantes e aquela ex-namorada que a gente nunca esquece. Percebi mais além: ao mesmo tempo em que a Internet tem seu lado obscuro servindo de fonte à prostituição, pedofilia, golpes e ataques virtuais, tem também sua utilização benfazeja ao corroborar com o despertamento da consciência daqueles que se comprazem nos queixumes e nas críticas, cheios de insatisfações quando tudo têm se comparados à maioria da população. São exímios em apontarem as falhas alheias, mas não dão um passo à frente para socorrerem um irmão necessitado. Desta forma, hoje pausei minhas tarefas diárias para refletir e dissertar sobre a pergunta-título: porque você reclama da vida?
Em minhas ondas mentais recebo a seguinte frase: “Precisamos ser mais tolerantes.” Mergulhados temporariamente neste mundo de provas expiações, acostumamo-nos a olvidar o poder de Deus, comprazendo-nos, por vezes através de sofismas, no papel de vítimas – quando não de agressores intolerantes – e nada fazendo para dar um novo rumo nas diretrizes de nossa existência. Ao mesmo tempo, tornou-se lugar-comum a ideia de que a nossa volta existe uma desigualdade social que – devido à projeção adquirida – tornou-se ineficaz combatermos, restando-nos esperar a solução por parte de nossos governantes. Entretanto, eles fazem sua parte, falhando ou não. Cabe-nos também o auxílio, o amparo àqueles que sofrem, desvencilhando-nos daqueles desejos egoísticos e pequenos, que em nada contribuem a nossa evolução espiritual. Disse-nos numa mensagem o médium Chico Xavier, nascido na mineira Pedro Leopoldo: “Antes de negar-se aos apelos da caridade, reflita um momento nas aflições dos outros.” Pondo-nos no lugar de quem sofre e chora, veremos muitos de nossos sonhos sequer passarem pelos pensamentos dos que transitam na miséria.
O texto contido na descrição desta comunidade virtual que acabei de ingressar, trazia assertivas do tipo: “Qual sua maior preocupação? Onde vai ser a próxima festa? Se está lindo nas fotos do Orkut? Se o seu tênis é o último modelo? Se o som do seu carro é o mais alto da galera? Ah, sim, você odeia política, é o "maior vibe", faz sinal de paz nas fotos da balada, mas ignora assuntos como guerras, violência, trabalho escravo e infantil, fome e pobreza, porque a vida é uma festa e você não quer parar, não é? O mundo NÃO é esse parque de diversões! Esse mundo é SEU também! Faça a SUA parte, mesmo que pequena.” Assim ocorre em nosso cotidiano: estamos no maior clima de auto-ajuda, enquanto não conseguimos sequer parar na rua quando alguém nos pede apenas atenção; queremos salvar a natureza e não levamos um pedaço de pão àquele irmão que passou a noite dormindo em nossa calçada. Isso quando não o corremos dali, sob ameaças de chamarmos a polícia. Partindo dessas reflexões, veremos que nossas angústias, dúvidas e inquietações, modismos e vaidades são pequeninos dissabores diante dos que hoje vivem nos bolsões de pobreza do Brasil.
Enfim, queridos irmãos, lembremos do poema “Supérfluo e Necessário”, de Chico Xavier, e reflitamos no que realmente buscamos em nossa existência física: “Uns queriam um carro, outros, andar; uns queriam um emprego melhor, outros, só um emprego; uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição; uns queriam ter olhos claros, outros, enxergar; uns queriam sapato novo, outros, ter pés.” Porque agastar-nos com o desejo de encher nossos braços de ouro e diamantes para disfarçar a simplicidade de nosso espírito imortal, se para muitos irmãos que nos assistem, somos suas esperanças nesta passagem pela Terra? Um dia entenderemos que a vida não é apenas tudo aquilo de palpável, de material que conhecemos, mas algo que vai além dos nossos olhos. Ela é um dom sublime, capaz de fazer-nos aprender a amar, seja pela dor, seja pelo amor. Antes de nos preocuparmos com o nosso bel prazer, com aquilo que sustenta nosso ego e vaidade, perguntemos a nós mesmos: porque reclamamos da vida? Que a Paz do Mestre Jesus nos envolva a todos, e que em cada novo dia despertemos para a realidade transcendente que se aproxima, vivenciando, assim, os pequenos lampejos da Era do Amor.
* Graduado como Historiador e Designer Gráfico por Amor. E-mail: gmsequeira@hotmail.com