É incrível como existem pessoas que menosprezam a sua própria terra, fazendo pouco de suas origens. Certamente não ouviram a expressão "a fruta nunca cai longe do pé". Além de negar a si próprio, diminuindo algo que contribui para sua formação e que, em parte, está presente em si, sujam a imagem de onde moram. E isso não é ufanismo barato, nem sentimentalismo piegas! Todo o contexto do lugar onde nascemos, fomos criados e/ou vivemos está presente nos mínimos detalhes de nossa personalidade. Se você ainda tem alguma dúvida disso, pensa um pouco se já deixou escorregar um "Bah, tri legal!", "Se deu!" ou qualquer outra expressão típica da sua região.
E o que me levou a falar sobre isso? Eu estava lendo a coluna 'Crônicas', uma das que mais leio neste site, e resolvi escrever apoiando o que seu autor colocou no texto "O charme escrachado dos riograndinos". Pois não só concordo com Altmayer, como faço minha sua indignação. Ultrapassa meu entendimento como os próprios riograndinos ficam malhando Rio Grande sem perceber o que estão fazendo com sua cidade. Ainda não sei se é algum problema com a auto-estima muito baixa ou de entendimento. Não consigo acreditar que alguém dispare sua metralhadora verbal na cidade sem pensar em algo que goste da terrinha. Nem o pessoal de Pelotas escapa de reservar um elogio para nossa terra. Afinal, qual é a praia que eles tem mais perto?
É incrível, mas pode-se chamar de relapso (temporário ou permanente) alguém que tem o prazer de ficar diminuindo sua cidade e descrevendo seus moradores com mediocridade, pois a pessoa que faz isso acaba se esquecendo que também está se descrevendo. Claro que me divirto com as peculiaridades locais e muitas vezes acabo me enquadrando nelas, também me divirto com as gafes que nos cercam e com minhas próprias gafes. Se divertir é uma coisa, agora ridicularizar é outra bem diferente.
Se ficarmos repetindo apenas o que não nos agrada na cidade, acabaremos por enfatizar um lado obscuro (se é que não peguei pesado nesta palavra) e esqueceremos o que tem de bom. Tente repetir cinco vezes "Eu sou feio" e depois se olhe no espelho. Como você se achou? Então repita cinco vezes "Eu sou bonito" e se olhe novamente. E então? Garanto que você estará com um belo sorriso! A mesma coisa vale para a nossa cidade. Você pode trabalhar na imagem dela e passar isso para os outros. "Ela é muito plana! -Melhor, não tem lombas, mais fácil de caminhar e dirigir.", "Ela só tem entrada por um lado! -Olha quanta água ao seu redor, uma paisagem mais inusitada que a outra!", "Essa maresia afeta meu carro! -Olha que praia linda!" e assim por diante. Tente ver o outro lado da moeda (sem querer abusar do chavão), provavelmente você vai gostar.
Bendita polifonia, que nos permite povoar os mais diferentes lugares com as mais variadas vozes, com a qual podemos defender o que foi denegrido e argumentar em favor do que acreditamos. Essas múltiplas vozes que nos trazem outras perspectivas e não nos deixam cair no primeiro argumento e que ainda podem ajudar a revê-los. Se alguém já leu ou ouviu algo desagradável sobre Rio Grande não esqueça de procurar outras fontes.
Vale lembrar que sempre carregamos em nós algo de nossas origens e quando menos esperamos esse algo aparece. Ou você acha que caiu longe do pé? Bah, bem capaz!!!