O sobrado da esquina da rua Zalony com rua General Bacelar é típico do fim do século XIX em centro comercial urbano, apropriado para comércio no térreo e residência no pavimento superior. Seu estilo filia-se ao classicismo, podendo ser denominado de Neoclássico. No térreo, duas portas na fachada da General Bacelar, uma no chanfro da esquina e mais sete na fachada da Zalony, sendo que a que lhe fica na penúltima posição dá acesso à escada que conduz à residência no pavimento superior. Esta porta em madeira, do tipo engradado com almofadas salientes, ainda mantém o estilo original, pois a última da extremidade sul foi substituída por uma mal desenhada e as demais foram trocadas por cortinas de aço de enrolar com painéis de madeira para esconder os respectivos rolos, numa primeira descaracterização do prédio.
No pavimento superior, no chanfro da esquina, vemos uma sacada de púlpito, nome dado às que se apresentam isoladas e guarnecidas por guarda corpos, que no caso são gradis artísticos de ferro forjado que se apóiam em uma base saliente da parede, a bacia ou concha. Seu gradil foi retirado, prejudicando sua fachada. Uma variante desse mesmo tipo é a última sacada pela rua Zalony, já que todas as demais são do tipo sacada corrida, que é a solução de janelas próximas possuírem sacada única ou contínua, e no caso unidas de duas em duas. Para as citadas sacadas abrem janelas rasgadas, com peitoril no nível do piso, transformado em soleira. As janelas rasgadas são de madeira, almofadadas na porção inferior e envidraçadas e com postigos de madeira na porção superior, dispõem de vergas retas e estão em posições correspondentes às portas do térreo. As portas do térreo são encimadas por arcos plenos ou de meia circunferência, estes fechados por bandeiras em caixilhos fixos de ferro cujos vidros foram, por desconhecimento do valor do prédio, pintados de amarelo, verde, azul, rosa e lilás. Todos os vãos das fachadas são contornados por molduras de argamassa, sendo as do térreo mais elaboradas e salientes, e arrematadas no topo por um fecho em forma de cunha moldado no reboco.
Partindo do nível dos passeios públicos vê-se o embasamento restrito a um soco mais saliente liso e uma barra apainelada executada de argamassa ressaltada dos planos das paredes. Desse embasamento partem pilastras de seção retangular com capitéis da ordem jônica, dividindo as paredes das fachadas em panos retangulares, com a envasadura de uma porta em cada entrecolúnio. De cada lado do chanfro da esquina e marcando os cunhais, foram colocadas pilastras de seção circular com capitéis da ordem coríntia com suas folhas de acanto. Acima dos capitéis existe uma cornija que marca na fachada a linha de separação dos pavimentos térreo e superior. A parte plana superior da dita cornija foi utilizada como base saliente para as sacadas e nela têm início as pilastras igualmente de seção retangular, com capitéis da ordem coríntia, do pavimento superior. A última pilastra na extremidade sul da fachada da rua Zalony, foi removida em benefício de uma janela basculante de ferro cuja abertura a cortaria pelo meio. Abaixo dela, no térreo, protegida por barras de ferro, foi aberta uma outra janela igualmente basculante, cortando a pilastra correspondente. Acima destes capitéis uma outra cornija, cujo friso central ostenta molduras e rosetas moldadas em argamassa. O topo das fachadas é arrematado por uma platibanda de balaústres fundidos em cimento, reforçada por pilares na prumada de cada uma das pilastras. Como arremate, um frontão singelo, com duas volutas, alteia-se da platibanda no chanfro da esquina.
A rua Zalony é uma rua antiga, estreita e tortuosa, como costumam ser as vias gestadas no crescimento espontâneo das cidades do século XVIII, E esse trecho é o mais interessante pois sua perspectiva dá a impressão de maior estreiteza exatamente pela presença deste sobrado e do sobrado fronteiro a ele, do mesmo estilo e da mesma época.
Assim sendo, trata-se de um sítio que cabe preservar, pois é o testemunho em tijolo e cal de um tempo áureo da cidade do Rio Grande, e que uma vez destruído nunca mais poderá ser recuperado.
Arquiteto Oscar Décio Carneiro Presidente do Núcleo Cidade do Rio Grande do Instituto de Arquitetos do Brasil